quarta-feira, 29 de junho de 2011

SEMANA DA SANTÍSSIMA TRINDADE: 19 A 25/06/2011 FESTA DE CORPUS CHRISTI: QUINTA FEIRA: 23/o6/2011


TEXTOS:
PRIMEIRA LEITURA:  Dt. 8,2-3.14.16
SEGUNDA LEITURA:   1Cor. 10,16-17
EVANGELHO:   Jo. 6, 51-58
 
Dentro à luz a semana da Santíssima Trindade, temos a celebração da  festa de Corpus Christi (O Corpo de Cristo), ou Santíssimo Sacramento. 
É o dia do Sacramento da Eucaristia.

Que relação existe entre Eucaristia e Santíssima Trindade?
Vimos que Santíssima Trindade é a relação-revelação de Deus como AMOR, nas suas três formas de relacionamento  de Deus conosco e com o mundo:
PAI: amor que gera a vida, criando tudo;
FILHO: o mesmo Pai que toma a forma humana, vive  e convive conosco. Nos revela as coisas de Deus. Nos liberta, morrendo por nós.
ESPÍRITO: o mesmo filho, que, volta  terra, como prometera, depois de ter subido ao céu, após sua morte e ressurreição, sob a forma de Espírito, que funda e organiza a Igreja, invisível, que age através de nós e sinais, que chamamos SACRAMENTOS, entre os quais a EUCARISTIA.
Já sabemos que as obras de Deus, são, ao mesmo tempo, as três formas de relação. E como já podemos vislumbrar a Eucaristia não deixa de, praticamente, ser as mesmas três relações, ou seja: a perpetuação da criação, da encarnação e comunhão. Vamos entender melhor tudo isto nos transcursos desta reflexão.
No meu modo de ver a liturgia de hoje, através de seus textos procura nos recordar O QUE É, ou o sentido da Eucaristia. E ela o faz através deste traços característicos principais.

1.     EUCARISTIA SACRAMENTO
Antes de mais nada a Eucaristia é um Sacramento, ou seja, a forma que Cristo quis dar a sua presença permanente em nossa historia, quando voltou à terra, depois de ter retornado ao céu.
Cristo está real, verdadeira, física e ativamente presente em nosso meio, mas de forma invisível (Espírito), através de SINAIS visíveis e sensíveis, que chamamos SACRAMENTOS e são sete: BATISMO, PENITÊNCIA OU CONFISSÃO, EUCARISTIA, MATRIMÔNIO, ORDEM E EXTREMA UNÇÃO.

2.     EUCARISTIA: NOVA PÁSCOA-LIBERTAÇÃO
A primeira leitura faz alusão “do Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da escravidão... alimentando-te com o MANÁ... Numa terra árida... fez jorrar ÁGUA !"
João Batista, quando viu Jesus, que vinha a ele, no deserto, o apresentou ao povo como  "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado mundo" (Jo, 1 29.36). Dentro da cultura judaica, o simples fato de falar "Cordeiro", suscitava, instantaneamente, a lembrança do Cordeiro  e da celebração da Páscoa, fato central desta cultura e história, para manter perpetuamente via a "memória" da libertação do povo, através da passagem (páscoa) do Mar Vermelho. Não há dúvida, então, que, apresentando Jesus como cordeiro João fazia clara alusão à Páscoa Judaica, colocando Jesus como o NOVO CORDEIRO, que iria desencadear novamente o movimento da nova Páscoa. (Ex.12,3-14.21. 26-27.46-47: 14,5-31).
Isto parece ficar claro e dar sentido à pergunta que os apóstolos, fazem a Jesus, numa das vezes que lhes aparece, após a ressurreição: "Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?" (At. 1,6). Jesus, quando instituiu o Sacramento da Eucaristia, fez questão de unir estreitamente à celebração da Páscoa judaica, deixando claro que a Eucaristia não só não a eliminava, ou substituía, mas lhe dava continuidade histórica, mudando apenas sua forma e dando-lhe um sentido muito mais profundo. Por isso chamamos também a Eucaristia de NOVA PÁSCOA.
Não se pode negar, pois, o caráter libertador da Eucaristia, que sempre teve fundamental importância, na história da Igreja, mas nos dias de hoje adquire muito maior importância, quando a Igreja dá a sua ação pastoral o caráter prioritário de libertação dos excluídos.
   
EUCARISTIA: MEMORIAL DA MORTE E RESSURREIÇÃO DE CRISTO

A Páscoa judaica não era simples lembrança do ato libertador de Deus, em favor de seu povo, mas verdadeira MEMÓRIA, ou seja, REPETIÇÃO E CONTINUAÇÃO do fato, pelo qual Deus o libertara da opressão do poder dominador do tempo (Egito), revisando sempre,   este estado de libertação. Insistindo e instigando o povo a recuperá-la  se a tivesse perdido. A mantê-la e fazê-la progredir, frente às novas ameaças de forças e sistemas de opressão e exclusão do povo.
A Eucaristia é, pois, a continuação do processo libertador inaugurado e prefigurado na páscoa judaica.
Cristo, com sua morte, ressurreição e ascensão ao céu, tornou esta libertação plena definitiva e universal, ou seja: fazendo-a passar,  de monopólio da sociedade judaica, para patrimônio de toda a humanidade, animando-a a lutar contra todas as forças que, hoje e sempre tentam explorar, escravizar e excluir o povo.
A eucaristia é, então, a repetição, através de sinais do pão e do vinho,da morte, ressurreição e ascensão. Não anula, nem substitui a Páscoa judaica, mas lhe dá continuidade, fazendo-a nova, plena definitiva e universal libertação de todos os poderes que tentam explorar, oprimir e excluir o povo. "Portanto todas as vezes que vocês comem deste pão e bebem deste vinho, estão anunciando (realizando) a morte do Senhor, até que ele venha (1 Cor.11,26). A Eucaristia é, pois, a celebração da nova, definitiva, plena e universal páscoa (1Cor.11,23-26).    À mesma conclusão chegamos ao ouvirmos Cristo relacionar a instituição da Eucaristia com a NOVA ALIANÇA (Mt. 26,28; Mc.14,24)
 
4. O PÃO É O CORPO, O VINHO É O SANGUE DE CRISTO
Quando Cristo prometeu a Eucaristia (Jo. 6,35-58), depois de ter multiplicado, com cinco pães e dois peixes e alimentado cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças, ele foi insistente e repetitivo ao dizer, realisticamente, que o pão era sua própria carne e o vinho, seu próprio sangue. (Jo. 6,51-58)
Os judeus se escandalizaram, tomando estas palavras  ao pé da letra. Os Discípulos e Apóstolos de Jesus também, mas Jesus, sem explicar, nem recuar, continuou insistindo nas mesmas palavras, dando a entender aos Discípulos e Apóstolos, que eles podiam abandoná-lo, se não acreditassem, como, de fato, aconteceu. "Minha carne é verdadeira comida e meu sangue verdadeira bebida"(Jo. 6,52.60-69).
Quando realizou o que prometera, Jesus disse:  ‘tomando o pão: Isto   É  o meu corpo e tomando o cálice com vinho: "Isto    É   o meu sangue (Mc. 14,22; Mt. 26,26-29; Lc. 22,14-20).
Notemos que Jesus não disse: "Isto simboliza, é sinal, mas isto É. Paulo insiste, taxativamente, no mesmo realismo: "O cálice... não é comunhão no sangue?! E o pão... não é comunhão no corpo?! (1Cor.10,16) O que não deixa dúvidas quanto ao realismo destas expressões. A hóstia e o vinho consagrados, não simbolizam, não indicam, mas SÃO o corpo e sangue de Cristo.

5. EUCARISTIA E TRANSCENDÊNCIA
Falando do Maná a primeira leitura (T. 8,3) atribui a Moisés a relação entre Maná e Palavra de Deus. Penso que este texto admite várias interpretações, que podem relacionar-se e integrar-se entre si. "O Senhor te alimentou com o maná... para mostrar que nem só de pão vive  homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor" Dt.8,3).
    - Ela pode querer dizer que, assim como o corpo, também o espírito precisa de alimento. Só o alimento material não sacia a fome humana, que precisa também de alimento espiritual. Foi neste sentido que Cristo respondeu ao Demônio. (Lc. 4,3-4)
    - Pode significar também que o maná lembra a palavra de Deus, justamente por que se originou na palavra de Deus, que o fez aparecer do nada.
   - Pode ser relacionado com a Eucaristia, enquanto a aparência, a imanência, ou a matéria  do pão suscita a transcendência imaterial e invisível do Corpo de Cristo.
    - Num nível mais profundo, pode também ser interpretado no seguinte sentido: Temos que transcender (ir além), ou transpassar (passar além) das aparências das coisas, buscando sua essência. O material das palavras tem sua origem e busca seu sentido no transcendental
        
6. EUCARISTIA-PRESENÇA
Cristo disse que ficaria conosco todos os dias, ate o rim do mundo. (Mt. 28,20) Voltado à terra, em forma de espírito, Jesus cumpriu sua promessa. A Eucaristia é a forma física desta presença, de certo modo, o movo visível desta presença invisível.
    
7. EUCARISTIA ALIMENTO
Hoje sabemos que já a prefigura do maná acenava para a Eucaristia como alimento. "Deus alimenta seu povo no deserto..." (Dt. 8,3) Também na mesma direção acenava "o pão cozido sobre pedras em brasa e uma botija de água, que alimenta Elias quarenta dias e quarenta noites pelo deserto. (Dt. 8,3)
    Sobre a Eucaristia Cristo disse: "Eu ou o pão vivo, descido do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo..."Se não comerdes a carne do Filho e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós.. Quem come a minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo, 6,51.53-54).

8. EUCARISTIA COMUNHÃO, COMUNIDADE, IGREJA
Em sua oração, que poderíamos chamar "ORAÇÃO TESTAMENTO" Jesus pede ao Pai que a mesma união que existe entre ele e o Pai, exista entre os cristão, entre si e com Ele, Jesus.
PARA QUE TODOS SEJAM UM, COMO TU, PAI, ESTÁS EM MIM E EU EM TI, PARA QUE TAMBÉM ELES ESTEJAM  EM NÓS...QUE ELES SEJAM UM, COMO NÓS SOMOS UM. EU NELES E TU EM MIM PARA QUE SEJAM PERFEITOS NA UNIDADE....E O AMOR COM QUE ME AMASTE, ESTEJA NELES E EU MESMO ESTEJA NELES”(JO.17,20-26)
   
Falando da Eucaristia, Cristo diz: "Quem come minha carne e bebe meu sangue PERMANECE EM MIM E EU NELE... Aquele que me recebe viverá POR MIM" (Jo.6,58). Na mesma linha de pensamento, Paulo repete: "Por que há um só pão, nós todos somos UM SÓ CORPO, pois todos participamos desse ÚNICO Pão" (1Cor. 10,17).
A união estabelecida pela eucaristia, entre Cristo e os cristão, entre os cristão entre si e Cristo, os cristãos e o Pai, não e algo acidental, superficial, puramente afetivo, mas constitutivo, ao ponto de podermos dizer: quem comunga se transforma em Cristo, como
afirmou Paulo: "Não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim" (Gl.2,20) "Para mim, viver é ser Cristo e morrer é lucro" (Fl.1,21).
O argumento é muito claro e contundente: Se Cristo é UM só e se todos, que o comem se, tornam um e permanecem, não só nele, mas permanecem ele, isto é se transformam e ficam Ele,todos se tornam um, na mais perfeita, profunda e substancial unidade que se possa imaginar.
Por isso a Eucaristia é a realização da comum união (comunhão) e comum unidade (Comunidade), que é o primeiro, último e mais profundo sentido, que constitui a Igreja.
Acho que aqui é o momento de observarmos que nunca Jesus foi tão repetitivo, incisivo e taxativo, em suas afirmações, do que  quando falou da Eucaristia, afirmando: Seu Corpo / Alimento / Comunhão

9. EUCARISTIA: NECESSIDADE E IMPORTÂNCIA
Depois do que vimos, ficam mais do que claras a importância e a necessidade da Eucaristia. Não haveria necessidade de repetí-lo.
Cristo também insistiu: "Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue. não tereis vida em vós"(Jo 6,53).
Assim mostrou, ao mesmo tempo, a importância e a necessidade da eucaristia. E isto também é fácil de entender: Se a eucaristia é a realização, através de sinais, da morte e ressurreição de Cristo. Se nesta morte e ressurreição consiste a nossa libertação, sem Eucaristia não há salvação.
Por isso a Eucaristia é de fundamental importância e necessidade. Nela também acontece a Igreja. Ela é como o tronco de uma árvore de onde a seiva se distribui para os galhos. Ela é o principal sacramento, do qual participam os demais sacramentos.
Quem não celebra a Eucaristia e não comunga, não tem vida, está morto. Por isso o terceiro mandamento da lei da Igreja exige: "Comungar ao menos uma vez por ano"
 EUCARISTIA  E RIBEIRINHOS
1. Compreendendo a importância e a necessidade da Eucaristia e como ela a medida da fé e do nível da Igreja, nos convencemos mais uma vez de que, de fato, a área ribeirinha é área de missão: Apesar de a maioria ser batizada 95%, se não mais, dela, não fez a primeira eucaristia. Nas poucas vezes, nas quais o Padre celebra a eucaristia nas comunidades, o índice de presença é muito pequeno e o de participação nulo. Como se explica esta situação:
1.1. Primeiro pela inexistência de uma evangelização regular e sistemática. A pastoral, até hoje, nestas comunidades, estava baseada nas tradicionais "desobrigas", que consistia na presença do padre, geralmente pároco na cidade, que vinha e ficava um ou dois dias numa área, oferecendo ao povo possibilidade, principalmente do batismo. Imagine-se o que isto significava para a evangelização que se dava, uma vez por ano e ficava reduzida aos poucos minutos da celebração do batismo, uma vez por ano. Diante desta situação não e de se admirar o nível de ignorância do povo, não só com relação à Eucaristia  e demais sacramentos, mas a toda a formação religiosa, de modo geral.
1.2. Em segundo lugar devemos tomar em consideração a localização geográfica das famílias, que moram, esparsas, muito distantes e isoladas umas das outras. Para se chegar de uma casa à outra, gasta-se no mínimo, em geral e em média uma hora.
 
2. Muitos, que não conhecem esta realidade, perguntam por que o Padre não celebra a Eucaristia. Embora, ultimamente, esteja fazendo uma visita missionária por mês a todas as comunidades. Este é o momento de explicarmos as razões desta situação.
Quando aqui chegamos, nos iludimos seguindo a mesma metodologia pastoral que tínhamos no sudeste, de onde viemos, baseado em agrupamentos de vizinhos, na Eucaristia e batizados. Logo, porém, tomamos conhecimento da situação e caímos na real.
Nas celebrações da Eucaristia, que fazíamos, o povo não participava, por que não sabia a parte das orações que competiam a ele. Mal e mal sabia rezar a Ave Maria, ignorando o Pai nosso e o Creio em Deus Pai. Na celebração da Eucaristia, o Padre era, ao mesmo tempo, Celebrante e Assembleia. Vinham pouquíssimas pessoas nas celebrações, justamente por causa das distâncias e por que, agora, não havia atração dos batizados.
Diante de tal quadro nos perguntamos. Qual o sentido de basear a pastoral nos sacramentos se o povo ainda não tem formação sobre as bases da religião, nem fez opção pessoal, esclarecida  e madura por Cristo?
Me convenci, então que este tipo de pastoral, aqui, não era viável e decidi então seguir o caminho traçado por Paulo: "Cristo não me enviou para batizar (baseado no trabalho nos sacramentos), mas para anunciar o evangelho" (1Cor 1,17). Ao sacramento devia preceder a evangelização, como também diz São Paulo: "Como poderão invocar aquele no qual não acreditaram ? Como poderão acreditar se não ouviram falar dele..... A fé depende, portanto,da pregação e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo" (Rm.10,14-17)
      Começamos, então a basear nosso trabalho em visitas de casa em casa, nas quais fazíamos cultos desenvolvendo uma evangelização fundamental mais pessoal, regular frequente, demorada. Após este trabalho de evangelização e supondo que o povo tinha assimilado o suficiente para uma compreensão, esclarecida, pessoal e livre dos sacramentos, começaremos a administração dos mesmos.
Aos que se sentem preparados para os sacramentos, poderão celebrá-los na cidade, onde vão, em geral uma vez por mês, lá permanecendo, comumente uma semana.

CONCLUINDO
         Vimos, então, que a Eucaristia é o principal sacramento de nossa Igreja, renovando o mistério da Santíssima Trindade, ou seja: o AMOR: Vida do Pai. Ato libertador do Filho e  comunhão-Igreja, no Espírito.
Por isso a Eucaristia é:
- Sacramento no corpo e sangue de Cristo, sob a forma de pão e vinho.
- Nova páscoa-libertação.
- Memorial da morte, ressurreição e ascensão de Cristo.
- Lembrança da dimensão transcendental da vida humana.
- Presença continuada, ativa, embora invisível de Cristo.
- Alimento pelo seu corpo e sangue.
- Que realiza a Igreja.
- E, por isso, é da maior importância e necessidade fundamental para a Igreja, o principal e fundamental sacramento da mesma.

        Peçamos a Cristo, que por intercessão de sua mãe, Nossa Senhora dos Ribeirinhos, dê e aumente em nós a compreensão de tão grande sacramento, para que possamos recebê-lo digna, cada vez mais consciente e frequentemente.

NOSSA SENHORA DOS RIBEIRINHOS, 
ROGAI POR NÓS.

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