A luz, que se irradia sobre esta semana é a celebração da Santíssima Trindade, de domingo passado. Esta festa nos lembra, como já vimos, que Deus é relação-revelação do AMOR, como:
PAI: criação. Pai que se torna, vida e do qual nos tornamos propriedade.
FILHO: Pai, que e torna um de nós, um conosco, nós.
ESPÍRITO: Cristo que volta para viver conosco sob forma invisível, estabelecendo conosco, comunhão, comunidade, Igreja.
O sentido de nossa vida é realizar esta mesma relação: Pai como Filho, no Espírito.
A liturgia de hoje nos mostra a única modalidade possível de viver, autenticamente, esta vida, dentro da contingência humana, enquanto estivermos vivendo em "barracas" (2Cor. 5,4).
1. Através de dois personagens paradigmáticos do Antigo Testamento e revivendo o velho antagonismo do Bem e do Mal (Gn.2,9) a revelação litúrgica de hoje, nos ensina que há dois modos , semelhantes ao de Abrão e Lot, de viver esta vida:
1.1. ENTRANDO PELA PORTA LARGA E CAMINHANDO O CAMINHO ESPAÇOSO: O CAMINHO DE LOT: Porta e Caminho do interesse individualista e egoísta, que só pensa em si, esquecendo o outro. Que sempre escolhe o primeiro e melhor lugar (Lc.14,7-11) melhor terra, que parece um jardim do Egito. Que levanta discórdias.
Seu fim leva à perdição e destruição de Sodoma e Gomorra.
Mas é o caminho que a maioria absoluta das pessoas escolhe para trilhar.
1.2. ENTRANDO PELA PORTA APERTADA E O CAMINHO ESTREITO: o CAMINHO DE ABRAÃO: é o daquele que evita a todo custo à discórdia, consciente da fraternidade, que deve existir entre nós. Que opta pelo sacrifício, mesmo tendo que se separar do amigo e parente. O que faz para o outro o que quer para si, cumprindo, assim, a plenitude da lei e dos profetas. O que deixa o outro escolher o primeiro lugar, e acha a melhor parte, contentando-se com o resto.
Este caminho gera a vida: predileção de Deus, que cumula de bênçãos e bens, simbolizados pela posse da terra a perder de vista e por uma descendência tão numerosa como o pó. Este é o caminho de Abraão. O caminho da minoria.
2. Uma vez que a maioria absoluta das pessoas, vai pelo caminho sodomítico, da morte, não adianta oferecer-lhe outro caminho. É como oferecer coisas santas aos cães, que nada entendem de santidade e pérolas aos porcos, acostumados com lavagem. Além de inútil, seria, até, perigoso. Eles podem se voltar contra os que lhe oferecem tais coisas, pisando-os, caluniando, perseguindo-os, e, até, levando-os a morte.
3. Cristo repetiu, insistentemente, que Ele é a porta (Jo 10,7) e o caminho verdadeiro, que é vida. (Jo.l4,6)
MAS QUE PORTA E QUE CAMINHO SÃO ESTES?
3.1. DA PEQUENEZ, ANIQUILAMENTO, DESAPEGO, HUMILHAÇÃO: "Sendo Deus, não se aproveitou de sua divindade, mas esvaziando-se de si mesmo, se aniquilando, fazendo-se simples homem, servo, obediente até a morte do escravo (cruz)" Fl.2,5-0)
3.2. DA POBREZA: "Cristo, embora fosse rico, tomou a condição de pobre". (2Cor.8,9; Mt 5,3;19,21; Tg. 2,5; Lc. 14,16.33
3.3. DO ESFORÇO: "Não pensem que eu vim trazer a paz à terra, Eu não vim trazer a paz e sim a espada" (Mt. 10,34)
3.4. DA C R U Z: "Os judeus pedem sinais, os gregos procuram a sabedoria. Nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos." (1Cor. 1,22-24)
" Quem quiser ser meu discípulo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e me siga". (Lc. 14,27)
"Em troca da alegria, que lhe era proposta, ele se assumiu a cruz, desprezando a vergonha". (Hb,12,2;Fl.2,8)
"Quem não toma sua cruz, não é digno de mim". (Mt. 10,38)
4. A PORTA ESTREITA, O CAMINHO APERTADO E OS RIBEIRINHOS.
4.1. Não é difícil constatar que a vida ribeirinha é uma porta estreita e um caminho apertado. Basta ver e conviver com ele, por pouco que seja, sem nenhuma condição de vida humana digna. Sem atendimento à saúde e necessidades básicas, sem escola e atendimento a saúde.
4.1. Não é difícil constatar que a vida ribeirinha é uma porta estreita e um caminho apertado. Basta ver e conviver com ele, por pouco que seja, sem nenhuma condição de vida humana digna. Sem atendimento à saúde e necessidades básicas, sem escola e atendimento a saúde.
- Ambiente inóspito, em constantes ameaças de animais e insetos nocivos, de todo tipo,entre os quais, o da malária é o mais perigoso.
- Clima adverso.
- Meios de transporte precários e, quando existem, caros.
- Acesso difícil.
4.2. Não basta, porém ESTAR em situação de porta estreita e caminho apertado, obrigado, a contra-gosto, por que não há outro jeito. É preciso assumir consciente, livre e pessoalmente a cruz. Se não, ela se torna algo puramente humano, contingência da vida, aceito mecanicamente, ou como um espécie de sina, ou carma cego, inevitável, irresistível.
4.3. Muitos não aceitam, nem acolhem a vida ribeirinha. Aí vivem, porque foi o único lugar, que encontraram onde sobreviver. Mas estão de "olho gordo" na cidade. A primeira chance que tiverem, mudam para lá
4.4. Na sua maioria muitos são obrigados a mudar para a cidade por falta de escolas, ou falta de certas etapas de educação, que só existem na cidade.
4.5. Outros se dão bem na área ribeirinha porque vivem frequentemente na cidade, ou por necessidade, ou por lazer e acabam sentindo pouco ou nada a estreiteza e apertos na área ribeirinha, que se transforma, para eles em "casa de férias", ou "de - fim-de-semana", ou só para o tempo da coleta da castanha.
4.6. Outros, finalmente, poderiam viver tranquilamente as mordomias da cidade, mas escolheram e assumem livre, espontânea e alegremente viver e morar na área ribeirinha.por vários motivos, entre os quais, avultam:
- O fato de ter nascido, sido criado e sempre vivido na zona agrícola e "gostar do cheiro da terra e da mata". "Eu gosto desta vida e não me dou bem nem me acostumaria com a agitação, o barulho e a violência da cidade.
- Dissabores e (ou) frustrações econômicas, afetivas e sociais que teve na cidade.
5. AO TRABALHO DE EVANGELIZAÇÃO compete transformar, numa opção cada vez mais cristã, pela porta estreita e o caminho apertado estas várias situações, puramente humanas, mecânicas e fatalistas. Esta evangelização, porem não quer dizer deixar esta população no seu estado de abandono e total falta de condições humanas. Muito menos manter um estado de alienação, nem acomodação, uma vez estas contrariam a dignidade de imagem e da vida da Santíssima Trindade que está em cada um de nós.
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