segunda-feira, 19 de março de 2012

E V A N G E L H O D A S Á G U A S

DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO COMUM

27 DE JULHO DE 2011 - QUARTA FEIRA



TEXTOS: EX. 34,29-35; MT. 13,44-46

INTRODUÇÃO

MUDANDO A ROTA
 Na festa de Pentecostes de 2011 criamos uma nova secção, em nosso blog da missão, intitulada MENSAGEM DAS ÁGUAS, através da qual sonhávamos fazer uma reflexão, pra os textos bíblicos das leituras da Liturgia Eucarística de cada dia. Logo, porém, constatamos que esta iniciativa não passava de mero sonho, por que esvaiu-se no ar como bolha de sabão. Prova disto é o fato já de estarmos no dia 12 de Março de 2012 e  termos parado de escrever estas reflexões no dia 26 de Julho de 2011. Portanto, duzentos e vinte e sete dias de   atraso e sem possibilidade de recuperação. Os trabalhos da missão e as férias, para nós que não temos notebook e ficamos muitos dias fora de casa impossibilitam totalmente acompanhar com estas reflexões a liturgia de cada dia. Por isso, longe de desistir, decidimos mudar a rota: Retomaremos as reflexões, a partir do dia 27 de Julho, como eram antes, mas, de agora em diante, sem nos preocuparmos com a data da celebração litúrgica do dia.

LITURGIA, NÃO CATEQUESE.

Se tivermos memória e espírito de observação constataremos que, não muito raramente, a liturgia repete, em geral, o evangelho e, também em geral, o  evangelho de algum  domingo anterior. A razão disto? Compete a algum liturgicista explicar. A nós, porém, baste lembrar a distinção entre LITURGIA e CATEQUESE
Liturgia é CELEBRAÇÃO do mistério. Catequese é APROFUNDAMENTO provocador de experiência do mistério, (não simples estudo) de modo orgânico, sistemático e progressivo.  Por isso  não se importa  com repetições, explicações racionais e desenvolver em cada celebração um tema, relacionando, numa  direção temática os vários textos, leituras e orações. Esta relação é feita por quem tem o interesse de captá-la, ou se servir dela, em vista de uma reflexão espiritual,  ascética, ou moral. Liturgia não é manual de espiritualidade,  e, muito menos, curso de catequese, ou evangelização. Por isso ela não tem muita lógica, nem preocupação temática, nem é ocasião para evangelização, em sentido específico.

A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA DE HOJE
Os dois textos de hoje: do livro de Êxodo e do Evangelho de Mateus, permitem-nos  tirar cinco mensagens de vida:
   
1. DEUS TOTALMENTE OUTRO. O INATINGÍVEL, O INACESSÍVEL.

Conta à lenda que um dia quando, Santo Agostinho, caminhando na praia, tentava entender quem era Deus, apareceu um menino, que fez um buraco no chão e, indo e voltando das ondas, enchia um dedal e jogava a água no buraco. Encabulado Agostinho perguntou ao menino: "O que você quer com isto?! Ao que o menino respondeu: O senhor está vendo aquele marzão, ali?! Pois eu quero colocar toda a água dele, dentro deste buraquinho!!" Dando largo sorriso o Santo exclamou: "Você está louco, menino! Como toda a água deste imenso mar vai caber dentro deste minúsculo buraquinho?!...  Ao que o menino retrucou:  Mais louco é o Senhor, que quer colocar a imensidão infinita do ser de  Deus, no minúsculo buraquinho de sua cabeça!!!" E desapareceu....!

O texto da primeira leitura de hoje, não nos conta o que aconteceu um pouco antes, no relacionamento entre Moisés e Deus. Moisés pediu a Deus que lhe permitisse contemplar sua face. Deus lhe respondeu que isto era simplesmente impossível, por que nunca acontecera de alguém ter visto a Deus e não ter morrido. Só seria possível vê-lo ”PELAS COSTAS" (Ex.33,18-20.23). Com isto Deus quis fazer Moisés entender o mesmo que o menino ensinou a Santo Agostinho:Deus não cabe em nossa cabeça. Enquanto estamos vivos o nosso modo de conhecer é através de conceitos, ou imagens, que captamos na realidade pela fantasia e a transmitimos ao cérebro. Ora de Deus não temos imagens, que nos permitam captá-lo  e transformá-lo em conceitos, que consigam representá-lo e  entende-lo. "Nosso conhecimento é limitado.... Agora vemos como por um espelho e de maneira confusa.... Agora meu conhecimento é limitado." ( 1Cor.13,9.12)  Só depois da ressurreição teremos condição, em um corpo espiritualizado, de vê-lo, não através de imagens, mas face a face, como Ele é. "As línguas cessarão, a ciência também desaparecerá. Quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado... e então o conhecerei como sou conhecido o veremos face a face, tal como Ele é" (1Cor.23,8.10.12). Em outras palavras, o que Deus disse a Moisés foi, em síntese: para podermos conhecer e compreender, ou ver a Deus, como ele é, é preciso morrer e, pela ressurreição, nos transformarmos nele. Até lá só o conseguiremos ver "pelas costas..." isto é pela , "Que é um modo de já possuir o que se espera. Um meio de conhecer realidades que não se veem." (Hb.11,1)
2. TRANSFORMAÇÃO DO SER
Bastou à visão de Deus pelas costas para que o rosto de Moisés se tornasse resplandecente e irradiasse uma luz tão ofuscante que cegava quem o encarasse. Por isso Moisés foi obrigado a cobrir seu rosto, quando falava ao povo, transmitindo-lhe o que Deus lhe ordenava. (Ex.33,18-23; 34,29.30.34)
Na parábola Jesus diz que depois de encontrar o tesouro escondido no campo e a pérola de grande valor os dois personagens vão, vendem tudo o que têm  e compram o campo e a pérola.
Tanto a transfiguração de Moisés, como o total desapego dos dois personagens do evangelho, nos mostram que grande e profunda experiência de Deus, provoca também grande e profunda transformação e mudança, não só  NO  ser da  pessoa, mas  DO  ser da pessoa. É mudança ontológica, ou seja: Não é só ALGUMA COISA da pessoa que muda, mas é TODO O SER  da pessoa...   Isto está simbolizado no rosto resplandecente de Moisés e no total desapego e desprendimento dos dois personagens da parábola.  Quem faz  experiência de Deus se torna OUTRA pessoa. "Não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl.2,20) "Meu viver é Cristo e morrer, para mim é Lucro (Fl.1,21) 
E esta transformação é, ao mesmo tempo pré-condição e fruto da Aliança que Deus quer estabelecer conosco, tornando-nos seu povo. "Quando Moisés desceu da montanha do Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas da ALIANÇA." (Ex.34,29)
    
3. TRANSFORMAÇÃO QUE PROVOCA MEDO, HOSTILIDADE
"Aarão e os filhos de Israel, vendo o rosto de Moisés resplandecente, tiveram medo de se aproximar...." (Ex.34,30)
Toda mudança e transformação é vista como ameaça ao meu modo de ser, agir, pensar. Vindo  acompanhada de desinstalação, desacomodação, que provoca incômodo, novo modo de ser, perda de poder, mudança de mentalidade... e, por isso, provoca reação, que em geral se manifesta como admiração, medo de mudar, de perder o poder, de desinstalar-se e faz surgir oposição, hostilidade, levando frequentemente  à eliminação de quem mudou e se torna uma proposta de mudança.
Esta é a reação que perpassa toda a história da caminhada do povo de Deus pelo deserto. Esta é a temática e ideia - força  do Evangelho de São João, que ele resume no seu Prólogo: "Esta luz brilha nas trevas e as trevas não conseguiram apagá-la".... O mundo foi feito por ela (Palavra), mas o mundo não a conheceu. Ela veio para os seus, mas os seus não a receberam. (Jo 1,5.10.11)
   
4. A REVELAÇÃO: DIMENSÃO MISSIONÁRIA
A pele do rosto de Moisés resplandecia por ter falado com o Senhor.... Eles viram... E Moisés lhes transmitiu todas as ordens que tinha recebido do Senhor. (Ex. 34,29.30.31.35)
     "Vocês são o sal da terra. Se ele perde sua força, com que se há de salvar! Não serve mais para nada, se não para ser jogado no lixo e ser pisado pelas pessoas. Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída  sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada para escondê-la, mas para colocá-la num candeeiro, afim de que ilumine a todos os que estão em casa. Assim brilhe vossa luz diante das pessoas para que, vendo vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai, que está nos  céus" (Mt.5,13-16)
A palavra, revelada a nós por Cristo não é para ser ciosamente guardada e escondida, mas para ser publicada e falada a outros, principalmente a quem nunca a ouviu, ou foi precariamente falada, ou ouvida. Ela tem um destino e  dinâmica missionária. Isto Jesus quis nos fazer entender através das parábolas do fermento e do grão de mostarda. (Mt. 13,31-33) A palavra tem uma força intrínseca, de expansão interna, que fermenta naturalmente a massa e faz crescer por e para dentro e uma força natural externa, que a faz se expandir por e para fora. Tem uma dimensão  missionária natural.
     Moisés se escondeu, para não esconder a palavra.  O homem que encontra o tesouro no campo e o vendedor de pérolas mantém os dois escondidos, para que ninguém os roube. A palavra de Cristo é como bola de futebol: Não pode ficar de posse, do jogador. Tem que ser passada.

5. CRISTO SE REVELA A TODOS, MAS NÃO DO MESMO MODO.
NEM TODOS ESTÃO PREPARADOS, OU DISPOSTOS.
    Não há a mínima dúvida de que Cristo não faz discriminação de pessoas  e se revela a todos igualmente. (At. 10,34--35; Rm.2,11). Mas também não há dúvida de que ele não revela tudo a todos ao mesmo tempo e do mesmo jeito. O patrão, da parábola contada por Jesus, não distribuiu, nem cobrou de seus servos a mesma quantia de talentos. Ao primeiro deu cinco, ao segundo dois, e ao terceiro um (MT.25,14-30). As sementes semeadas não caíram todas no mesmo tipo de terreno e por isso não renderam a mesma colheita. (Mt.13,3-9)
O sucesso da palavra e da revelação está na dependência do modo como a palavra é aceita, do nível de preparação daquele a quem ela é dirigida. Moisés disse a Javé ... “continua em nosso meio, mesmo que este povo seja cabeça dura..." (Ex.34,8).
Alguma coisa Jesus explicava só aos Apóstolos e discípulos e não a todo o povo: "A vocês é dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não. Pois a quem tem será dado ainda mais, em abundância, mas daquele que não tem, será tirado até o pouco que tem... Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles são duros de ouvido e fecharam os olhos para não ver... e não ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração e não se coverter."  (Mt. 13,10-17;  Lc.8,18; Jo.12,40; At. 28,26) e seguintes: Ouvirão e não compreenderão. Tapar os ouvidos".  Ef.3,5: Deus não manifestou estes mistérios para as gerações passadas, como revelou agora. Hb 5,10. "Temos muito a dizer....mas é difícil explicar, porque vocês se tornaram lentos para compreender. Há muito tempo vocês deveriam ser mestres, no entanto ainda precisam de alguém que lhe ensine as coisas mais elementares. Em vez de alimento sólido, vocês ainda estão precisando de leite. Ora, quem precisa de leite ainda é criança......Alimento sólido é para os adultos que, pela prática estão preparados para distinguir o que é bom e o que mau." 1Cor. 3,1-3;2,6:. "Quanto a mim, não pude falar-vos como a homens maduros na fé, mas a uma gente fraca, como as crianças...Dei leite para vocês beberem, não alimento sólido, pois vocês não podiam suportar. Nem mesmo agora o podem...." "É a homens maduros que falamos."
"Vá e diga a esse povo: escutem com os ouvido, mas não entendam. Olhem com os olhos, mas não compreendam. Torne insensível o coração deste povo, ensurdeça seus ouvidos, cegue seus olhos para que ele não veja com os olhos nem ouça com os ouvidos, nem compreenda com seu coração, nem se converta, de modo que eu não o perdoe." (Is.6,9-10)
Estas palavras de Isaías, atribuídas, quase literal e  totalmente a Jesus, no Evangelho de João 12,39-40 e de Mateus 13,11-15 parecem fazer-nos entender que esta surdez, cegueira e oposição às palavras de Deus e dele são desejos e castigos  pessoais  infligidos por eles a quem não aceita sua palavra. Mas temos outra palavra, também de Isaías 42,3, também atribuída a Jesus, pelo Evangelho de Mateus 12,20: "O Servo de Javé não esmagará a cana rachada, nem apagará o pavio que ainda fumega". Lemos também no profeta Ezequiel: 33,11:"Não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva."
Depois destas palavras de Isaías, Mateus e Ezequiel somos obrigados a mudar nossa primeira interpretaçãoAli o profeta   e  o evangelista usam uma linguagem antropomórfica (falam à moda humana), colocando nas costas de Deus, ouvi de Cristo o que é de responsabilidade totalmente humana. A bondade e misericórdia de Cristo superam, de muito a maldade humana, como Ele mesmo mostrou na parábola do “Filho Pródigo”. (Lc.15,11-32)
Diante disto, o que temos que afirmar, então, é que Cristo, sem nenhuma discriminação revela sua verdade a todos, mas não de uma vez, ao mesmo tempo e do mesmo modo, mas respeitando o estágio de crescimento e compreensão e a vontade, disposição e aceitação de cada um.
É por isso que a evangelização, para um povo em estágio de missão, isto é de pouca formação e informação tanto religiosa como escolar, tem que começar pelo B, A, BA da religião, ou seja, pelas verdades fundamentais, mais elementares, pelo modo mais simples e compreensível.  Reduzida ao campo da evangelização, para só na etapa seguinte, começar a falar  e ministrar os sacramentos.

DIANTE DO QUE VIMOS DEVEMOS NOS PERGUNTAR:

1. Será que não estou caindo no erro de Santo Agostinho ao querer fazer Deus caber na minha cabeça? Minha religião é baseada na fé ou na razão?
2. Minha experiência de Deus, através da religião, está provocando em mim  profunda mudança de meu ser? Está, de fato me fazendo outro?
3. Como estou trabalhando as reações que minha mudança provoca em mim mesmo, na minha família, na minha comunidade: Estou sabendo entendê-las, ajuda-las a crescer? Ou estou me isolando, desprezando-as, hostilizando-as, ou fugindo?
4.  Estou procurando, em espírito missionário, passar aos outros as experiências que faço de Deus? Ou guardo-as egoisticamente só para mim?
5. Estou procurando acelerar meu crescimento, sem queimar etapas, para poder cada vez mais rapidamente estar mais disposto, apto,  para receber, como adulto os alimentos sólidos que a religião me oferece?

ORAÇÃO: SENHOR, COMO SAMUEL QUERO LHE DIZER COM A MESMA ACEITAÇÃO, DISPONIBILIDADE E PRONTIDÃO: "FALA, SENHOR, QUE TEU SERVO ESCUTA (I Sm. 3,10), CONHECES, PORÉM, MEUS LIMITES, MINHA FRAQUEZA,  MINHA INCONSTÂNCIA. POR ISSO  A GARANTIA E CERTEZA DE MEU SUCESSO ESTÁ NA MINHA BOA VONTADE, NO MEU ESFORÇO E, ACIMA DE TUDO, NA TUA GRAÇA. QUE EU LHE IMPLORO. AMÉM!

NOSSA SENHORA DOS RIBEIRINHOS, ROGAI POR NÓS!

segunda-feira, 5 de março de 2012

O PREÇO DO AMOR!

Uma tarde, um menino aproximou-se de sua mãe, que preparava o jantar, e entregou-lhe uma folha de papel com algo escrito.

- Por limpar meu quarto esta semana R$1,00

- Por ir ao supermercado em seu lugar R$2,00

- Por cuidar de meu irmãozinho enquanto você ia às compras R$2,00

- Por tirar o lixo toda semana R$1,00

- Por ter um boletim com boas notas R$5,00

- Por limpar e varrer o quintal R$2,00

- TOTAL DA DÍVIDA R$16,00


A mãe olhou o menino, que aguardava cheio de expectativa.

Finalmente, ela pegou um lápis e no verso da mesma nota escreveu:

- Por levar-te nove meses em meu ventre e dar-te a vida - NADA

- Por tantas noites sem dormir, curar-te e orar por ti - NADA

- Pelos problemas e pelos prantos que me causastes - NADA

- Pelo medo e pelas preocupações que me esperam - NADA

- Por comidas, roupas e brinquedos - NADA

- Por limpar-te o nariz - NADA

- CUSTO TOTAL DE MEU AMOR - NADA

Quando o menino terminou de ler o que sua mãe havia escrito tinha os olhos cheios de lágrimas.




Olhou nos olhos da mãe e disse:



Logo após, pegou um lápis e escreveu com uma letra enorme:

"TOTALMENTE PAGO".

Assim somos nós adultos, como crianças, querendo recompensa por boas ações que fazemos.

É difícil entender que a melhor recompensa é o AMOR que vem de Deus.

E para nossa sorte é GRÁTIS.




Basta querermos recebê-lo em nossas vidas!

Quaresma