Hoje celebramos a festa de Nossa Senhora do Carmo. Segundo a tradição dos Monges Carmelitas, o primeiro Superior Geral da Ordem, São Simão Stock, recebeu das mãos de Maria, o escapulário, com a promessa de eterna salvação, para quem o usasse. É daí que surgiu a devoção e a prática do uso do escapulário de Nossa Senhora do Carmo pelos Monges e pelo povo. O foco, para a inspiração e interpretação dos textos da eucaristia de hoje, então,não pode deixar de ser outro senão M A R I A.
1. HORA DA MULHER
Vivemos num século e cultura no qual a figura, a presença e ação da mulher é um dos traços característicos e mais fortes. Mas o que nem sempre a gente se lembra é que a revelação cristã já defendia a igualdade e o valor feminino desde o Antigo Testamento. Baste lembrar a presença decisiva das mulheres como Rute, Judite, Agar, Sara na história do Povo Judeu. Das cinco mulheres, companheiras, auxiliares e financiadoras do trabalho missionário de Jesus, Paulo e na história da Igreja como: Marta, Maria, Santa Catarina de Sena, Santa Tereza e tantas outras. Mesmo sem serem reconhecidas o Cristianismo sempre foi mantido por mulheres, que são maioria Igreja. Esta maior projeção da mulher nada mais é do que reconhecimento de uma realidade não aceita, nem reconhecida....
A devoção e o lugar dado a Maria na Igreja Católica além de ser um sinal qualitativo de nossa denominação, é uma antecipação e protótipo deste movimento atual, que se tornou universal. Esperamos que Maria e a mulher ocupem em todas as denominações, seu lugar de Medianeira, Cor redentora, em toda a história de nossa libertação. E TENHAMOS CORAGEM DE DIZER QUE, SEM ELA, CRISTO NADA SERIA, NADA FARIA. Religião Sem Maria e religião estéril....Não dá à LUZ !... NÃO GERA CRISTO!
2. MARIA CAUSA DE NOSSA ALEGRIA
Antecipando a alegria do mundo pelo aparecimento e a missão de Maria na história de nossa libertação, o profeta Zacarias convida o povo a rejubilar, isto é: a um júbilo fora do comum através do canto, dança, pulos e gritos, extrojetando e extravasando sua incontrolável alegria e entusiasmo interior, por um fato inédito que está acontecendo. Maria, após a notícia que o anjo lhe deu, também não consegue se controlar e prorrompe em arroubos de alegria, cantando:
MINHA ALMA PROCLAMA A GRANDEZA DO SENHOR!
MEU ESPÍRITO SE ALEGRA EM DEUS MEU SALVADOR!
POR QUE OLHOU PARA A HUMILHAÇÃO DE SUA SERVA!
DE HOJE EM DIANTE TODAS AS GERAÇÕES ME FELICITARÃO
POR QUE O TODO PODEROSO REALIZOU UMA GRANDE OBRA EM MEU FAVOR
SEU NOME É SANTO! E SUA MISERICÓRDIA CHEGA AOS QUE O TEMEM
DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO!
ELE REALIZA PROEZAS COM SEU BRAÇO!
Por isso reconhecemos em Maria a causa de nossa alegria. Mas perguntamos: o que é que está acontecendo?! Que grande obra, que proeza é esta, realizada pelo senhor realizou , que justifique toda esta euforia?
3. DEUS BOTOU BARRACA NO MEIO DE NÓS
A proeza, o fato inédito, de fato, é algo que nunca havia acontecido, nem alguém podia imaginar que um dia acontecesse. O que nenhum dos grandes, poderosos e dominadores do mundo, poderia sequer imaginar, aconteceu: DEUS RESOLVEU SAIR DE SEU PALÁCIO E VIR MONTAR SUA BARRACA, SUA TENDA AO LADO DA NOSSA!? Quem viu e quem pode sequer sonhar PROEZA IGUAL?!
4. SEREMOS UM SÓ POVO Um outro motivo, ainda, justifica tanta euforia: "Muitas nações se aproximarão do Senhor, naquele dia e serão o seu povo" O sonho da universalidade do Reino do Senhor estava começando a acontecer num futuro bem amanhã . Esta é outra proeza, que nunca se viu nem se imaginou, homem algum sonhou!...
É claro que o profeta Zacarias, ou o escritor a quem deram seu nome, ou a comunidade que chega a este estágio de consciência, sem dúvida está falando do modo como o Deus do Antigo testamento decidiu acampar no meio deles, construindo o TABERNÁCULO e Davi realizou a unificação das tribos do norte e do sul, Judá e Israel, formando um só povo, que, para a visão judaica era ao menos em sonho e desejo utópico a unificação de toda sociedade, tendo o povo judeu como centro de coordenação e comando O GRANDE REINADO DE DEUS, DO QUAL DAVI SERIA O FARAÓ.
O tabernáculo, a barraca de Deus, apontava para acampamento mais miraculoso!
4. MARIA: DEUS VEIO SER UM DOS NOSSOS
A proeza, que já espantava e deixava boquiaberto o povo, representado por Zacarias, sem ver, o que parece que via. Sem entender o que parece que escutava, se transformou, em pura realidade, que é só abrir os olhos e não tem jeito negar. Não é preciso nem abrir os ouvidos para ouvir. Ele fala de dentro de nós. Basta esticar as mãos... E tocá-lo... e senti-lo.
Ele deixou de se esconder em barraca e se fez um de nós, um dos nossos: MARIA, a nova tenda, que não esconde, mas revela, encarna. Agora Deus é nossa carne. É nosso sangue!
Se, no Antigo Testamento, o tabernáculo já deixava o mundo pensando que via miragens. O que sentia o mundo vendo Deus pensando com eles, falando com eles, vivendo a mesma vida deles?!
5. EM MARIA DEUS É NÓS!
Agora, o sonho do profeta, não é mais a aproximação das tribos num só povo, nem a unificação de todas as nações numa só nação sob o comando de uma. A união é muito mais profunda. Todo o povo se torna UM no Cristo e o Cristo é o mesmo em cada um e em todos, realizando mais misteriosa e grandiosa unificação. "Que eles sejam um, como nós somos um. Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade" (Jo. 17, 20-26)
Se o mundo do Antigo Testamento rejubilou ante a barraca. Se o mundo de Jesus estarreceu ante o homem. O cristão de hoje ainda procura entender o que é Comunidade! NÓS-CRISTO-NÓS.
E tudo isto em Maria e por Maria !
6. MARIA: DEUS É EXCLUÍDO E DOS EXCLUÍDOS!
Mas a maravilha ainda não parou aí. Se o mundo se espantou quando Deus se fez barraca, se estarreceu quando se fez carne e até hoje procura entender o que quer dizer "nos fez um fazendo-nos UM nele", o mundo se amedrontou, quando em Maria, Deus se fez EXCLUIDO. Isto já é o cúmulo! Inadmissível! Mas Maria dá o motivo de sua incontrolável alegria. Deixa claro que ela exulta por que:
"O Senhor dispersa os soberbos de coração.
Derruba os poderosos de seus tronos
E eleva os humildes.
Enche de bens os famintos
E despede os ricos de mãos vazias.
Socorre Israel seu servo, segundo a sua misericórdia" Lc.1,51-54)
Em outras palavras, o júbilo de Maria é, por que nela os excluídos são lembrados por Deus. Tem voz e vez junto dele e vão ser à base da nova sociedade, inaugurada em Cristo.
E pensando bem, não poderia ser de outro modo, pois, se a maioria absoluta do povo é feita de excluídos, como é que Deus, fazendo-se um no meio do povo e como povo, para salvar a todos, pode ser da minoria?!
7. MARIA-PALAVRA
Muita gente erroneamente pensa, que, na cena registrada, pelo Evangelho de hoje, Jesus faltou com a educação, não dando a devida atenção à sua Mãe e parentes, que o foram visitar. Pelo contrário, podemos explicar e justificar esta atitude de Jesus, de quatro modos:
- Esta foi mais uma tirada profética de chocando o auditório, para sublinhar e chamar a atenção de seus ouvintes para uma verdade que queria incutir em suas mentes, como fez com a Cananéia, chamando-a de "cachorrinha" (Mt,15,21-28): dos Operários da vinha, dando a impressão de ser injusto e discriminador (Mt. 20,1-16) e do Feitor infiel, justificando o roubo e a infidelidade (Lc.16,1-13)
- Aproveitando o aviso da presença de sua mãe, se inserindo e colocando seu exemplo de cristã, fiel à palavra de Deus, Jesus introduz este assunto neste momento de sua pregação, como se dissesse, apontando para ela: "Minha mãe está aí para provar que....."
- Jesus, com outras palavras, sem querer, ou sem poder interromper o que estava fazendo, quis simplesmente dizer: "Estou ciente do aviso e os atenderei depois"
- Finalmente, e esta me parece a interpretação correta: Jesus inaugura e introduz um outro conceito e categoria de família, afirmando que, na comunidade cristã, a partir dele a família não deveria mais ser definida a partir da carne e do sangue, ou da realidade material, mas da realidade transcendental, ou espiritual, não só alargando e dando outro sentido à família, mas criando um novo e inovador modo de falar e viver a família. Esta chamada de atenção para a dimensão transcendental, ultrapassando a dimensão carnal, material e histórica, mais comum na nossa mentalidade até hoje, Jesus a fez várias vezes, por exemplo: depois que Pedro dá testemunho de sua divindade (Mt. 16,13-17). E no Prólogo do Evangelho de São João, onde, afirmando justamente o que afirma, neste trecho do evangelho, diz que aqueles que fizeram a pção por Cristo e vivem a vida dele, movidos pela Palavra,. "não nasceram, nem da carne, nem do sangue nem da vontade humana, mas nasceram de Deus"(Jo. 1,13)
De modo algum, porém, pode-se admitir em Jesus, neste fato, uma atitude indiferente, depreciadora, ou desrespeitosa à sua mãe e família. Ao contrário, é motivado e inspirado na sua presença e justamente pelo exemplo dela que ele diz o que disse, Sua mãe é a primeira e exemplo de Alguém "que ouve a palavra de Deus e a põe em prática, fazendo sua vontade" (Mt. 12,48) Por isso ela é minha mãe e não por que ela me deu à luz.(Mt.7,21--27; Lc.11,27-28)
Ninguém praticou melhor a palavra e fez a vontade do Pai, do que aquela, que, contrariando os próprios projetos de vida, aceitou o projeto de Deus e deu À luz SUA PALAVRA (Lc. 1,26-38) "E o Verbo (Palavra) era Deus....e se fez homem" (Jo.1,1-14)
8. O ESCAPULÁRIO DE NOSSA SENHORA DO CARMO
O escapulário, que Nossa Senhora entregou a São Simão Stock, é uma peça de pano, medindo, mais ou menos 30 centímetros de largura, que tem um buraco no centro, por onde entra a cabeça da pessoa e cai, pela frente e pelas costas até os pés da mesma. E colocada por cima da túnica e é característica do vestuário dos Padres e Irmãs Carmelitas.
Há muitas pessoas que escolhem o projeto de Vida e a espiritualidade (Carisma) beneditino sem poder viver na ordem. Os Carmelitas, então, criaram um modo de vida, através do qual a pessoa vive a vida e a espiritualidade Carmelita, sem sair de seu estado e situação de vida no mundo, como se fosse um Carmelita. Como sinal característico deste compromisso eles entregam um cordão, em formato de um círculo, com uma medalha de Nossa Senhora do Carmo, numa ponta e a de a de São Simão Stock, ou o símbolo da ordem no outro. Este cordão, passando pela cabeça desce pela frente pelas costa da pessoa, como se fosse o escapulário de pano, que reveste os carmelitas.
A maioria das pessoas que usam este tipo de escapulário (existem outros, como o Beneditino) o fazem ritualisticamente, como uma espécie de amuleto, sem conhecer seu sentido e sem saber dos compromissos que assumem ao usá-lo. Estes compromissos são, sem sair do estado de vida que assumiram, viver o projeto de vida e a espiritualidade do carisma carmelita. Sem isto o escapulário vira um amuleto, como qualquer outro.
9. MARIA E OS RIBEIRINHOS
9.1. Como falamos nesta reflexão, Maria é sinal constitutivo de nossa Religião Católica. Católico sem amor e devoção a nossa Senhora, não é Católico verdadeiro. Santo Afonso Maria de Liguori, fundador da Congregação, à qual pertenço, os missionários Redentoristas, dizia que a verdadeira devoção a Maria é garantia de salvação. E isto, que vale para todo católico, vale muito mais, para os ribeirinhos, porque no seu canto de exultação, citado acima, já vimos que Maria rejubila, nem tanto pela glória que Deus concedeu à pessoa dela, mas pela escolha que Ele fizera da pessoa dela, que era, também, uma excluída, na sociedade judaica, para ser sua mãe. Ele estava, assim, escolhendo e elevando os excluídos e mostrado sua predileção por eles.
Os ribeirinhos devem ter, para com ela, um carinho e devoção todo especial por que se identifica com eles e dedica a eles um carinho todo especial.
9.2. Para ter consciência de que Jesus, mais do que ESTAR CONOSCO, ser UM DE NÓS e SER NÓS, fazendo-nos um nele, é preciso ter profunda consciência e compreensão do cristianismo. Esta consciência e compreensão é fruto do trabalho de evangelização, o que vem, mais uma vez, mostrar a importância de um sério trabalho de evangelização,que é a função do missionário.
Que Cristo nos dê esta consciência e compreensão!
MARIA MÃE DOS RIBEIRIHOS, ROGAI POR NÓS!
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