TEXTOS: Sb. 12,13.16-19; Rm. 8,26-27; Mt. 13,24-43 - 17/JULHO/2011: DOMINGO

Confesso, à primeira vista, achei difícil estabelecer uma linha de continuidade e unidade entre as três leituras da Eucaristia de hoje. Não conseguia descobrir um tema central que servisse de foco integrador das três leituras. 

Depois de várias leituras, foi surgindo um fio condutor, através da qual consegui estabelecer uma unidade entre os textos.  É este tema-unidade que partilho com você: A    V I D A!

1. MAIOR LONGEVIDADE

Quando  fiz minha Graduação e, depois Pós, em Ciências Sociais, lá pelos idos de l972-74 o índice de longevidade no Brasil, alcançava a média de 60 anos. Hoje, 40 anos depois, este índice  está oscilando entre 70 e 80, e já não é mais tão raro encontrar pessoas que atingem a faixa dos 90 e 100...

Isto é fruto de que? Do maior cuidado com relação à saúde, não há dúvida. Maiores esclarecimentos sobre alimentação. Crescimento e maior evolução e aprofundamento das ciências relacionadas à saúde. Aplicação dos  mais avançados recursos técnicos no campo  da medicina. Não podemos negar, que um dos traços mais  marcantes da cultura e sociedade moderna, seja um grande avanço no culto  à saúde física.

Mas se aceitarmos, com a Organização Mundial da Saúde, que a dimensão física não é a única e mais importante, nem a principal dimensão da vida e saúde, mas que ela, para ser eficaz e duradoura, real e verdadeira, tem que ser algo integral e integrado, com  saúde mental, cultural , moral e religiosa, já não poderemos nos gabar de tantos e tão grande avanços e progressos, ao constatarmos estão altos e crescem continuamente,  os índices de suicídio, stress, depressão, violência, fobias e desequilíbrios mentais... 
2. A PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGO

No evangelho de hoje extraído de Mateus, Jesus, através de uma parábola, sem pretensões de nos oferecer um estudo completo e aprofundado, mas apenas, um começo de conversa como introdução ao  debate, através de comparações, Ele nos apresenta a vida como:

2.1. UM CAMPO, ONDE FOI SEMEADA BOA SEMENTE

De fato, o campo é a pessoa, o mundo, criados por "Deus, que viu que tudo o que havia feito era muito bom." (Gn. 1,31). Então, no sexto dia, ao término da criação não havia o mal. Deus, criando o mundo e o homem, os fizera como um conjunto de potencialidades boas, que a pessoa deveria desenvolver e fazer crescer.

Pela comparação com o grão de mostarda, que é a menor das sementes, mas cresce, se tonando uma grande árvore, ao ponto de os passarinhos virem fazer nela seus ninhos (Mt. 13,31-32). E do fermento, que apesar de pequeno volume faz a massa crescer mais que o dobro, (Mt. 13,33) Jesus mostra as boas qualidades da semente, que tem uma força centrífuga, de expansão, para fora e uma força centrípeta, de crescimento interior, para dentro.

Pela parábola dos talentos (Mt. 25,14-30), Jesus faz entender que Deus  dá a cada um dons e talentos  próprios e especiais.como cada semente tem sua  espécie e qualidades próprias.

O Espírito, que vem em socorro de nossa fraqueza e intercede em nosso favor, é à força de crescimento da semente (Rm.8.26-27)

2.2.         SEU INIMIGO SEMEOU O JOIO

Quem é este inimigo? A parábola atribui esta má atitude " aos que pertencem ao maligno".

Pelo que podemos concluir e vem expressamente dito, na parábola: a semente era boa. Deus não podia criar o mal, ou plantar semente má no mundo, na pessoa e na vida do ser humano. Todos nós nascemos bons.

Mas a parábola diz que, de repente, apareceu o joio no meio do trigal. (Joio é uma planta, em tudo semelhante ao trigo, mas cuja semente é chocha, sem nada dentro e que, por isso, não germina, não brota, não dá fruto.

De onde veio este joio? Quem o semeou no trigal? A parábola põe a culpa no "seu inimigo", ou seja, o inimigo do dono do terreno. Ou "os que pertencem ao maligno", "o diabo", ou "o maligno", os que fazem os outros pecar", ou " os que praticam o mal".

Mas esta historia está mal contada!  Estamos dando a este "inimigo que plantou o joio" um sentido literal e fundamentalista, esquecidos de que se trata de uma parábola, portanto de uma forma antropomórfica, ou seja: de conteúdo dito em formas e expressões humanas.

Não precisamos interpretar este joio, ou este 'inimigo", como algo, ou alguém FORA DO PRÓPRIO HOMEM, mas  como  algo, ou alguém DENTRO DO  PRÓPRIO HOMEM. Como? Deus criou o homem, como uma árvore que tem capacidade de fazer o bem e o mal. Oferecer Frutos bons e frutos maus. DEUS NÃO FEZ O HOMEM UM ROBÔ, MAS UM HOMEM LIVRE, com capacidade de optar, escolher e decidir entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, como um ato de vontade consciente, pessoal e livre. Então podemos dizer, que dentro dele há forças, sementes, tendências, ou instintos e paixões, que o puxam, tanto para o bem, como para o mal. (Gn. 2,15-17) O ser humano é trigo e joio, ao mesmo tempo. Tudo dependerá do que, ou de quem ele cultivar mais.

2.3.         ENQUANTO TODOS DORMIAM

Por que apareceu o joio no meio do trigal?  Como é que o inimigo conseguiu entrar sorrateiramente e plantar o joio aí?! Isto foi possível, porque "todos estavam dormindo"...

Vimos, acima, que Deus nos deu um conjunto de dons e talentos e no-los mandou trabalhar e desenvolver (Gn. 1,26-30; 2,5.6.15). Se nós não os trabalhamos, nem desenvolvemos, como o servo inútil da parábola dos talentos (Mt 25, 14-30) ficamos como terra não  cultivada, na qual o mato cresce, se torna abrigo para sapos, cobras e todos os animais peçonhentos e vamos perdendo os dons que temos. Por que estamos carecas de saber  que "terra não é cultivada, só cria mato." e "água parada, só cria limo". Se nos falta esforço, espírito de luta, não crescemos! Nada produzimos, como a figueira que o dono amaldiçoou (Lc.13,6-7; Mc.11,21; Mt,21,18-19).

      Vimos também que Deus nos criou livres. Liberdade não é capacidade, mas possibilidade de fazer o mal, capacidade de optar e decidir entre o bem e o mal.  Se nós não fugimos das ocasiões de pecado e das más companhias. Alimentamos  maus pensamentos, favorecemos tendências más, maus instintos, mas paixões e cedemos às tentações, o mal e o joio tomam conta do trigal, abafam e matam a semente (Mt. 13, 1-9).

Outro cuidado, que devemos ter: estas tendências, instintos, paixões, tentações, assaltam de repente, de surpresa. Por isso uma das atitudes sobre a qual Jesus mais insistiu várias vezes, foi a VIGILÂNCIA. "Ninguém sabe nem o dia, nem a hora. Portanto ficai de prontidão!" "Vigiai e orai, para não cairdes em tentação (Mt. 24.32-44; 25,13; Mc.14,30; 13,35-37; Lc. 12,37).

Mas há um outro detalhe, uma palavrinha, que, certamente, passou desapercebida nesta  parábola. É a palavra TODOS: "Enquanto TODOS  dormiam, veio seu inimigo". Esta palavrinha aponta para a importância da comunidade, no sentido da ausência. Ninguém estava acordado. A semente, isolada da comunidade, fica fraca, vulnerável. A Comunidade nos alerta.  De certo modo nos vigia e nos controla. Chama nossa atenção, anima, estimula e assim não nos deixa cair...

2.4. UM HOMEM SEMEOU: O SEMEADOR

         Jesus, explicando a parábola disse que "Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem", isto é ele mesmo.

Não há ninguém melhor para garantir a qualidade da semente do que o que semeia, o próprio Cristo, que também é o dono do terreno.  Como criador, "ele tem o domínio,  cuida de tudo e nos governa com grande consideração" (Sb. l2,13.16.18). Vai escolher a melhor terra e a melhor semente. E não deixará faltar inseticida, para matar as pragas...

O Espírito "vem em socorro de nossa fraqueza". Dará força  para a semente crescer, vencendo as dificuldades. "Intercede em nosso favor. E penetra até o fundo dos corações" (Rm. 8,26.27). Não faltará o melhor adubo à semente...

2.5. A HORA DA COLHEITA

"OS HOMENS MORREM UMA SÓ VEZ E DEPOIS DISSO VEM O JULGAMENTO"

(Hb.9,27; Mt. 22,33; Jo.5,29; Rm. 2,3; 2Pd.3,7; 2 Jo. 4,17; Ap.14,7)

Continuando a explicação da parábola Jesus diz que "A colheita será o fim dos tempos" (Mt.13,39).

Muita gente pensa que este "fim dos tempos" se identifica com o "fim do mundo", o que não é correto. Fim dos tempos, ou fim do mundo é o fim do MEU tempo, ou fim do MEU mundo. Nossa MORTE, quando acaba nosso tempo e nosso mundo.

Jesus nem faz alusão direta ao julgamento, na parábola, mas o afirma de modo implícito, falando de suas características e das qualidades do juiz. Ele, o juiz, será: 

"Justo, mas humano" (Sb.12,l9; Jo.8,16). 

Clemente e fiel: "Julgas com clemência' (Sb.12,18)

Rigoroso e justiceiro: "Mostras a tua força a quem não crê na perfeição do teu poder. E nos que te conhecem castigas seu atrevimento " (Sb. 12,17)

          Com grande consideração. "Nos governas com grande consideração, pois, quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder" (Sb.12,18)

Indulgente: à semelhança do Pai do Filho pródigo (Lc.15,11-24). Não negando nunca o perdão(Sb.12,19). Esta característica do seu julgamento,  Cristo quis mostrar, também, através da parábola do  "Credor compassivo, que perdoou a dívida de quem lhe devia"(Mt. 1823-27). E da parábola da "FIGUEIRA ESTÉRIL", que a pedido do empregado, o patrão poupou e não mandou cortar, esperando que, para o ano ela produziria frutos. (Lc. 13,6-9) Cristo sempre dá nova chance. Não apaga a tocha que ainda fumega  e não nos castiga de acordo com os nossos pecados (Is. 42,3; Mt.12,20; Sl.102,10). A mesma indulgente paciência aparece nesta parábola, quando os empregados quiseram arrancar o joio, antes do tempo da colheita e o patrão não permitiu, mandando esperar o tempo da colheita (Mt.12,28-30).            

Próprio para suscitar uma atitude de esperança e não de medo: "Assim procedendo ensinas ao teu povo que O JUSTO DEVE SER HUMANO e a teus filhos deste  confortadora esperança" (Sb. 12,19)

2.6. ARRANCAR E RECOLHER

Como conclusão da parábola Jesus ordenará a seus enviados, para arrancar o joio, ou seja: "os que fazem os outros pecar e  praticam o mal. Recolhê-los e lançá-los na fornalha de fogo, onde haverá choro e ranger de dentes ". O trigo, ou seja: os justos, por sua vez, "os que pertencem ao reino, serão recolhidos no celeiro e brilharão como estrelas no reino de seu Pai".

Os que tomam o fim dos tempos e do mundo ao pé da letra, empurram todo este final, para depois que o mundo acabar. Quem, porém  traduz "fim dos tempos" e "fim do mundo" numa dimensão individual, ou seja: a morte das pessoas, dá à ressurreição e ao julgamento um caráter imediato, imediatamente depois da morte. O que acho mais correto.

Também, é bom lembrar, que quando dizemos: "Deus castiga",  estamos usando uma linguagem antropomórfica, por que Deus não castiga ninguém. Ele é  sempre e infinitamente amor e não pode, nem vai  deixar-se limitar pelo ódio e o mal. O que nós chamamos de "castigo de Cristo" são as consequências que cada escolha, opção e decisão provocará na pessoa e vida de cada um. Quem opta e faz o mal, terá como consequência o mal que praticou. Quem se decidiu pelo bem e o praticou, também receberá o prêmio merecido a começar, tanto do castigo, como da recompensa, já aqui neste mundo. Mas a misericórdia de Cristo é tão grande que mesmo nesta situação, haverá chance de nos purificarmos mesmo após esta vida. É o que chamamos de PURGATÓRIO e INFERNO, mas ainda com chance de arrependimento e libertação, para podermos viver plena e definitivamente, em comunhão com Cristo. É o que chamamos de CÉU.

2.7. SÓ FALAVA EM PARÁBOLAS

         O texto do evangelho também diz que Jesus  só falava em parábolas e a razão era para cumprir o que estava escrito: "Abrirei a boca em parábolas. Vou proclamar coisas escondidas, desde a criação do mundo". (Eu não consegui achar em que profeta, ou lugar da Bíblia está escrito isto). No meu modo de ver, Jesus ensinava contando historinhas, por que falava ao povo, que, na sua maioria, era gente muito simples e inculta, com grande dificuldade de entender uma linguagem erudita. 

2.8. PARÁBOLA DA SEMENTE E PARÁBOLA DO JOIO

Jesus contou, em outra ocasião a "Parábola da Semente", na qual o fracasso desta, tem sua origem na TERRA. Esta parábola do Joio e do Trigo, coloca a culpa do fracasso no semeador e na semente.

2.9. JOIO E TRIGO ENTRE OS RIBEIRINHOS

A parábola do joio chama nossa atenção para as seguintes atitudes:

1. COMO ESTÁ NOSSA VIGILÂNCIA, com relação  as nossas amizades, companhias, controle de nossos pensamentos, tendências?

2. COMO ESTÁ O TREINAMENTO PARA O CONTROLE DE NOSSA LIBERDADE: pelo exercício da mortificação, ou treinamento da vontade, auto-domínio, auto-controle?

3. COMO ESTAMOS PROCURANDO DESENVOLVER OS DONS QUE DEUS NOS DEU. OU NOSSOS TALENTOS?

4. E NOSSA VIDA DE ORAÇÃO, COMO ESTÁ? 

No "Pai Nosso" rezamos: "Não nos deixeis cair em tentação, mas livrei-nos do mal!"

5. PROCURAMOS ALIMENTAR-NOS DE BONS PENSAMENTOS, ATRAVÉS DE BOAS LEITURAS, LEITURA DA BÍBLIA ETC?

6. O TRABALHO MISSIONÁRIO É IMPORTANTE E NECESSÁRIA por que nos educa para a criação e defesa da boa semente em nós.

Estamos dando o devido valor a este, ao missionário e seu trabalho?

Peçamos que Nossa Senhora seja a educadora e a protetora da semente do trigo e  do bem em nossa pessoa e nossa vida.

MÃE RIBEIRINHA, ROGAI POR NÓS!